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Sara Beauty

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22
Ago15

A minha experiência na Universidade: As Praxes

A minha experiência na Universidade

Setembro está a chegar e com ele as colocações no Ensino Superior. Por esta razão, achei por bem partilhar convosco a minha experiência no Ensino Superior, principalmente as praxes.

Eu entrei para o Ensino Superior no mesmo ano em que ocorreu a tragédia do Meco. Claro que, quando isto se passou, o ano letivo já tinha começado para mim bem como as praxes. Moro no distrito de Setúbal e fiquei colocada na minha primeira opção, Fisioterapia, na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal, não ficando por isso deslocada. Comida? Levava-a já feita de casa e quando chegava ao IPS era só aquecer só que eu não sabia onde eram os microondas, o que me levou a comer a comida fria por um ou dois dias. Após começar a integrar-me na turma, comecei a conhecer pessoas, a conhecer melhor o edifício em si e acabei por descobrir os microondas. Até aqui, tudo bem! Mas foi por volta da segunda semana de aulas que tudo começou, as praxes. 

No meu primeiro dia de praxes, os trajados não estavam autorizados a mandarem-nos fazer atividades que fizessem com que ficassemos sujos pelo que cantámos, jogámos e foi tudo muito engraçado! Segundo e último dia de praxes: o terror. Neste dia, tivémos praxes antes e depois das aulas, chovia torrencialmente e por vezes, lá se fazia um clarão e depois o som de um trovão. O dia começou logo com várias granadas (o objetivo é saltar bem alto enquanto gritam "BOOM" e deixarem-se cair no chão e só nos levantamos quando essa ordem surgir), flexões, insultos, canções, seguidos de aulas e, na hora de almoço, mais praxes, ou seja, mais granadas, mais flexões, mais "tá de quatro", mais de tudo. No início da tarde lá fui eu e mais alguns colegas ter Anatomia e Fisiologia, uma das disciplinas mais importantes da licenciatura pois é a base de tudo, pelo que não quis faltar. Depois de Anatomia, Psicologia do Desenvolvimento, no qual os alunos presentes queriam manter-se na sala de aula, em vez de ficarem contentes pela aula ter terminado mais cedo. A professora percebeu a razão e, quando saiu da sala (sendo ela anti-praxe), foi reclamar com alguns trajados, o que levou a que ocorressem retaliações. Após ter sido feita de parva tantas vezes, após um esforço físico enorme e após estar completamente encharcada e com a perceção que ia cair para o lado a qualquer momento, fui ter com uma trajada referindo que não me estava a sentir bem, tinha frio e que provavelmente estava com febre, ao que a menina me respondeu: "não tem um casaco? Então vista-o!". E assim o fiz. Não muito tempo depois, resolvi que para mim acabou. Cansaço físico associado ao facto de eu ser muito sensível emocional e psicologicamente, fez que me sentisse ainda mais esgotada que antes, começando a chorar e, quando me perguntaram se eu estava bem, eu disse que ia desistir que não estava para aquilo. Chega outra menina que me disse algo que eu nunca mais vou esquecer, uma coisa do género "se não aguentas as praxes, como é que estás à esperar de aguentar a vida profissional onde te vão ser exigidos os mesmos esforços que estás a fazer aqui?". Ora desculpem lá, e eu aceito perfeitamente as pessoas que são todas a favor da praxe, nada contra pois temos o direito de gostar de coisas diferentes! MAS, desde quando uma pessoa é menos profissional ou está menos preparada para enfretar a vida que segue após a universidade? Desde quando é que frequentar a praxe nos torna melhores profissionais? A resposta é: desde nunca. Existem excelentes profissionais que nunca passaram pelas praxes e isso não os torne piores que os outros. Para mim esta afirmação foi a gota de água. 

Quando estava prestes a me vir embora, houve um vetereno (aluno do 3º ano ou com 3 matrículas) que veio falar comigo e convenceu-me a ficar, a pousar os meus pertencentes e a regressar para as atividades. Com um pé atrás, decidi dar mais uma oportunidade a esta parte da vida académica.

Para tornar o meu regresso em grande, vamos lá a mais uma granada, mas desta vez aquática! Ou seja, havia uma poça de água consideravelmente profunda (cobria mais que a minha sola dos ténis, tendo para aí um 3cm de profundidade e vamos lá saltar para dentro de água, estando a chover torrencialmente! Como se não bastasse, os senhores trajados andavam a chapinhar ao pé de nós e, enquanto eles andavam sequíssimos, eu pelo menos tinha até a minha roupa interior encharcada. 

Acabei este dia horrível de praxe e fui apanhar o comboio (que é o meu meio de transporte). Uma vez que tinha o casaco todo sujo de ketchup, banha de porco pobre, ovos, farinha e completamente encharcado resolvi tirá-lo pois não queria sujar o comboio, ficando de mangar curta. Uma trajada que eu julgo ter sido da Escola de Educação, ofereceu-me a sua capa para eu ficar minimamente quente pois estava de tal maneira que os meus dentes não paravam de bater enquanto que uma colega sua ofereceu a capa dela para colocarmos no banco do comboio para nos sentarmos sem molharmos os assentos. Durante a viagem, mandei uma mensagem à minha mãe a pedir para me ir buscar à estação e levar um casaco quente, o que ela fez. Quando sai da estação e vi a minha mãe e a minha irmã à minha espera, foi o momento em que me senti a quebrar, a tirar a máscara de quem estava a gostar de estar daquelas "atividades" e comecei a chorar. Chorei o caminho todo até casa, onde tive um ataque de pânico após tomar banho e ver os hematomas que eu tinha no meu corpo, principalmente nos joelhos e nos cotovelos. Quando consegui acalmar-me, comecei a discutir com a minha família a hipótese de abandonar as praxes, as quais decidi frequentar para poder trajar, nunca tive interesse em praxar. A minha família apoiou-me e, começando a pesquisar, descobri que existe um decreto de lei que, muito resumidamente refere que qualquer pessoa que frequente o ensino público pode trajar, o que eu irei fazer com todo o gosto pois o traje é um traje académico e não um traje praxístico, tendo como objetivo mostrar ao resto das pessoas o orgulho que temos da nossa instituição. Caso ainda não tenham percebido, no IPS, quem não frequentar as praxes não pode trajar.

Como referi em cima, foi neste ano que a tragédia do Meco aconteceu e percebe-se perfeitamente que ocorreu uma mudança no tipo de praxes feito na instituição que eu frequento, ficando muito mais "leves". Mas se estou arrependida de ter saído? Não.

Para finalizar este longo post, só quero dizer que cabe a TI e somente a TI decidires se queres ou não frequentar este tipo de atividades. Se não quiseres? Não te preocupes! As praxes ocorrem no primeiro mês do ano letivo do 1º ano e depois só ocorre uma vez por mês, sendo as famosas "as quintas negras", e não é por este tempo que não irás fazer amigos. Se quiseres? Força nisso! Nem todas as universidades funcionam da mesma maneira e, como já referi, ocorreu uma grande mundança após a tragédia. Se tens dúvidas? Experimenta, se gostares, permaneces, se não desistes. Nunca te esqueças que és livre de desistir quando quiseres!

Este post foi feito com o intuito de mostrar uma experiência que eu não vejo muito nos blogs, o que é bom, o que significa que tiveram experiências positivas nas praxes. Não quero incentivar ninguém a desistir das praxes se é isso que querem fazer, nem nada do género. É a minha experiência que, apesar de tudo, penso ter sido positiva pois aprendi quais são os meus limites que não vale a pena por nada deste mundo sentir-me rebaixada a uma barata. 

Novamente: se me arrependo da decisão que tomei de abandonar as praxes? Vou agora para o 3º ano e posso assegurar que nunca me arrependi, olho para trás e fico muito contente com uma atitude que eu considero ter sido uma atitude de coragem.

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